O
blogue surgiu na emergência de criar uma resposta para algumas situações
detetadas em contexto de estágio que, a meu ver, necessitavam de ser trabalhadas.
No estágio referente ao 1º Ciclo do Ensino Básico, foi-nos pedido que
desenvolvêssemos um plano de intervenção planificada, em que se tinha de fazer
um levantamento das problemáticas gerais da turma, de modo a que se conseguisse
ir de encontro às suas necessidades. Assim, após alguns dias de observação
detetei as seguintes:
·
Manifestação de atitudes que denunciam
alguma falta de autonomia e responsabilidade;
·
Manifestação de atitudes/comportamentos
que refletem a falta de valores nos domínios cívicos e morais do indivíduo
enquanto elemento da comunidade educativa;
·
Individualismo;
·
Falta de valores de solidariedade e
respeito pelas diferenças;
·
Falta de autoestima por parte dos
alunos, quer a nível académico que a nível pessoal;
·
A falta de interesse por parte dos pais
no percurso escolar dos filhos;
·
Falta de disponibilidade dos
encarregados de educação para virem à escola;
·
O ceticismo dos alunos quanto à
importância da Escola na formação do indivíduo.
Assim
o projeto que desenvolvi estava construído na tentativa de dar resposta aos
principais problemas detetados no grupo, e ainda, recorrer a uma atuação
pedagógica e metodológica assente numa pedagogia por descoberta que visasse a
exploração concreta, observação direta, participação e envolvimento de todos os
intervenientes e, ainda, o aproveitamento de todos os recursos humanos e
materiais disponíveis na comunidade educativa. O título que dei ao projeto foi:
Aprender a gostar de nós e dos
outros
O
projeto em si tinha muitas metas, objetivos a trabalhar, claro que nem todos foram
trabalhados como pretendido, mas serviram de base para a criação do blogue.
Alguns dos objetivos eram:
·
Estimular a participação ativa dos
encarregados de educação no percurso académico do seu educando;
·
Promover o desenvolvimento da
autoestima, de regras de convivência e de respeito mútuo, que contribuam para a
formação de cidadãos autónomos, participativos e civicamente responsáveis;
·
Desenvolver competências necessárias ao
exercício da cidadania;
·
Fomentar situações de diálogo e reflexão
sobre experiencias vividas e preocupações sentidas pelos alunos; Proporcionar
situações de expressão de opinião, de tomada de decisão com respeito pelos
valores da liberdade e da democracia;
·
Desenvolver atitudes de respeito
individual, respeito pela família e respeito pelos outros;
·
Adquirir hábitos de trabalho individual
e em grupo, contribuindo para o desenvolvimento de atitudes de cooperação e
entreajuda;
·
Favorecer o desenvolvimento de
sentimentos de autoconfiança;
·
Integrar os
alunos com necessidades educativas especiais (NEE).
Muitos
foram os projetos que pensei, e alguns, concretizei. No entanto, apenas passado
um tempo é que idealizei o blogue. Isto porque, com o decorrer do dia-a-dia me
apercebia de que havia um desinteresse por grande parte dos pais na vida
escolar dos filhos, não havia um grande acompanhamento feito em casa, talvez
por incapacidade de conciliar horários, no entanto, muitas vezes, os recados
vinham assinados muito tempo depois, não havia correspondência assídua, não
havia grande preocupação para que a criança chegasse a tempo às aulas, que
trouxesse o material necessário, os trabalhos de casa feitos (que eram raros).
Estas situações levaram-me para o tempo em que eu era aluna do 1º Ciclo do Ensino
Básico em que tinha acompanhamento mais académico por parte do ATL que
frequentava, mas em casa, havia a preocupação em saber o que se passava em
contexto escolar, se havia recados, se os trabalhos estavam feitos, se a mala
estava pronta, até mesmo preparação do lanche, e principalmente, pontualidade
na chegada à escola. O que faltaria a este grupo? Os tempos tinham mudado tanto
assim? Claro que ponderei que os horários dos pais são muitas vezes difíceis,
mas que estas falhas não se deviam apenas aos pais, muitos dos ATL’s que as
crianças frequentavam não se responsabilizavam por auxiliar as criança nos
trabalhos escolares. Havia um conjunto de fatores que me levavam a pensar que
havia uma alguma falta de interesse pelas crianças e o seu percurso escolar, e
que talvez isso se refletisse na falta de autoconfiança, falta de valores. Como
poderia eu tentar inverter este percurso?
Assim
surgiu a ideia do blogue. Isto porque me lembrei do projeto que tinha
desenvolvido anteriormente, o Caderno vai
e vem. Claro que o modelo não poderia ser o mesmo, teria de ser algo mais
adaptado àquele grupo e, claro, ano escolar. Seria então a nível informático,
via internet, para que todas as famílias pudessem ter acesso à informação, em
casa, num fórum cultural, onde fosse possível. Felizmente já estava
familiarizada com a construção de um blogue, sendo para mim fácil a criação do
mesmo; já para a professora foi um pouco mais difícil o acompanhamento do
mesmo, ao que chegamos ao acordo que eu ficaria responsável pela manutenção do
mesmo, mas que ela iria, claro, acompanhar todo o processo.
O
blogue em si, tinha então como objetivos, numa fase inicial:
·
Fomentar a reflexão crítica;
·
Promover a capacidade de iniciativa;
·
Despertar e estimular a criatividade;
·
Desenvolver competências de partilha e
cooperação;
·
Desenvolver
o espírito de intervenção e participação;
·
Oferecer
atividades curriculares e de enriquecimento curricular de acordo com as
necessidades e interesses dos alunos;
·
Melhorar
a comunicação com as famílias;
·
Potenciar
ações dirigidas aos pais, visando a sua intervenção no acompanhamento do
percurso escolar dos alunos;
·
Estimular
a comunicação formal e informal entre os pais e as estruturas de orientação
educativa;
·
Dar a conhecer às famílias todo o trabalho
desenvolvido em contexto escolar, de modo a que se sentissem mais integrados e
mais “seguros” quanto à atividade dos filhos.
A base seria a mesma que a do Caderno
vai e vem, todas as sextas-feiras, ou o último dia da semana, seria feito
um resumo do que se tinha realizado durante a semana, o que tinham aprendido, o
que tinham trabalhado, o que tinham criado, entre outros aspetos que surgissem.
Também havia uma projeção para a semana seguinte, do que se iria trabalhar ou
anunciar momentos específicos, como visitas, ou comemorações especiais.
Eu levava o portátil para a sala de aula e com o projetor, projetávamos a
imagem na parede da sala, e assim, começávamos a construir textualmente a
estrutura da mensagem. As crianças é que decidiam o que seria exposto e como.
Eu e a professora eramos apenas orientadoras, alertando para melhoramentos,
esquecimentos entre outros. Eram escolhidas as fotografias, que eram tiras por
mim ao longo da semana, de modo a ilustrar o texto.
Por haver fotografias das crianças optou-se, na reunião de pais, por se
criar um blogue onde apenas teriam acesso as pessoas que o administrador, eu e
a professora, convidasse-mos. Era necessário que os pais nos cedessem os seus
email’s de forma a receberem um convite para poderem aceder ao blogue, assim,
estaríamos a proteger a identidade das crianças, podendo, então, revelar
fotografias sem problemas.
Mais
uma vez, e felizmente, os resultados foram positivos. A ideia do blogue foi
rapidamente bem aceite pelas crianças, assim como pela professora cooperante
que rapidamente se apercebeu dos seus benefícios, dando-me a total
disponibilidade e incentivo para realizar este projeto.
As
crianças estavam sempre ansiosas para que a sexta-feira chegasse para poderem,
então, relatar os acontecimentos da semana, mas também se mostravam motivadas
quando eram tiradas fotografias, sentiam-se importantes e reconhecidas.
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