O
Caderno vai e vem surgiu na tentativa
de responder a uma problemática. Era a primeira vez que iria estar à frente de
um grupo de crianças, crianças com idades entendidas entre os 3 e 4 anos, sendo
que a grande maioria se encontrava na sala pela primeira vez, tinham vindo da
creche, onde os ritmos eram diferentes, as áreas, a organização de toda a sala
e atividades, tudo era novo para eles e para mim, o que se poderia tornar um
fator de ansiedade por ambos os lados. Ansiedade que acabou por se revelar por
parte de alguns pais, pois estes sabiam que aquela seria a minha primeira
experiência, assim como aquela era uma nova “etapa” para os seus filhos. Queria
que os pais encarassem o Jardim-de-Infância, mais especificamente a minha sala,
como um espaço privilegiado de interação social que permitia a cada criança
partilhar e trocar experiências, momentos de grande valor emocional e afetivo,
importantes para o desenvolvimento individual assim como do grupo.
Queria,
ainda, provar a mim mesma que conseguiria realizar este projeto, que tinha sido
um pouco desacreditado por parte dos restantes adultos da instituição, como a
educadora Vera afirmou:
Inicialmente
quando a Raquel me falou do Caderno vai e vem achei uma ideia bastante
ambiciosa e que exigia tempo e paciência para o concretizar. Pensei que era uma
ideia de alguém que está a começar agora, que chega a casa e não tem que fazer
jantar, arrumar a casa, dar banho ao filho, dar jantar ao filho, brincar com o
filho, etc, etc, até chegar à hora de se deitar.
Este
seria, então, um desafio que estava pronta a tomar.
Mas
afinal no que consistia o Caderno vai e
vem? Era algo, a meu ver, muito simples. A semana decorria de forma
natural, havia atividades, previamente planeadas, brincadeiras, momentos chave
próprios de uma rotina num jardim-de-infância. Eu ia registando
fotograficamente vários momentos do dia, para que depois, estes fizessem parte
do relatório semanal presente no caderno. Todas as sextas-feiras, realizávamos,
à semelhança do que acontece no MEM, uma “reunião”, ou seja, juntávamos os
adultos responsáveis pela sala e, claro, todas as crianças. Esse espaço tinha
como propósito que as crianças relatassem o que se havia passado ao longo da
semana, refletissem o que tinham feito, dialogassem umas com as outras, e que tomassem
decisões, entre outros aspetos que na altura ainda não se encontravam
“formalizados” para este projeto. Nesse mesmo convívio, decidia-se,
aleatoriamente, ou com a aprovação de todo o grupo, quem levaria o caderno para
casa durante o fim-de-semana. O objetivo seria, em conjunto com os pais, a
criança, há semelhança do que acontecia durante a semana, relatasse o seu
fim-de-semana em contexto familiar, com ou sem fotografias, apenas se pedia um
registo do que tinha acontecido no fim-de-semana da criança.
A
Lei-Quadro para a Educação Pré-Escolar define a educação pré-escolar, como
sendo:
(…)
a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida,
sendo complementar da ação educativa da família com a qual deve estabelecer
estreita relação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da
criança, tendo em vista a sua plena inserção como ser autónomo, livre e
solidário. (Lei n.º 5/97, de 10 de Fevereiro, art.º 2)
Criar
a “estreita relação” era um dos meus objetivos, sendo que esta iria promover
outro tipo de vantagens que abaixo serão apresentadas. A partilha também era
desejada, a partilha de momentos vividos ao longo do ano letivo, relatado no
caderno, e os momentos familiares vividos pela criança. Com isto queria aproximar
os pais do contexto escolar, dar a conhecer, e dar a oportunidade de participarem,
de forma diferente, no mesmo.
Com
o caderno iria um livro infanto-juvenil da Educadora de Infância, ou seja, meu,
que era escolhido pela criança eleita. O livro tinha como objetivo dar a
conhecer aos pais, livros de qualidade, tentar proporcionar um momento de
qualidade entre os pais e a criança, ao estarem juntos na descoberta do livro.
Também foi tido em conta que alguns pais poderiam não ter a oportunidade de,
durante o fim-de-semana, vivenciar com a criança um momento chave, um momento
“digno” de partilhar, assim, o livro possibilitaria a criação desse momento,
dando a oportunidade de, em conjunto, relatarem no caderno quais as emoções,
sensações que aquele momento lhes tinham proporcionado.
Na
semana seguinte, na entrega do caderno, a criança iria relatar ao restante
grupo, com o auxílio da Educadora e do próprio caderno, o que havia acontecido,
o que tinha aprendido, o que tinha vivenciado dentro de um contexto mais familiar
e pessoal. Queria que as restantes crianças tivessem a oportunidade de, também,
se possível, vivenciar também os acontecimentos, as atividades da criança em
questão com o relato da mesa. Depois do relato, e da troca de ideias entre as
crianças, se possível, eu desenvolvia uma atividade relacionada com o tema
tratado, na tentativa de potencializar a participação da criança, dando valor
às suas vivencias e à participação e empenho dos pais.
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